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Iara Deodoro é homenageada com Biblioteca Digital de seus movimentos na dança afro

Pics Música e Cultura | Iara Deodoro é homenageada com Biblioteca Digital de seus movimentos na dança afro
Crédito: Bruno Gomes

Projeto inédito na América Latina, coordenado pela bailarina Mônica Dantas, celebra a trajetória de uma das maiores referências de dança afro do sul do Brasil e fundadora do Instituto Sociocultural Afro-Sul Odomodê, que morreu em setembro, aos 68 anos. No dia 25, ocorre live de apresentação e, no dia 03 de dezembro, lançamento com com todo o elenco na sede do Afro-Sul

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Bailarina, coreógrafa, criadora do Grupo de Dança Afro-Sul do Instituto Sociocultural Afro-Sul Odomodê, bacharel em assistência social e pós-graduada em educação popular, há 50 anos, Iara Deodoro fundou com Paulo Romeu Deodoro o Afro-Sul Grupo de Música e Dança, que depois deu origem ao Instituto Sociocultural Afro-Sul Odomodê, um dos principais espaços de referência da cultura negra em Porto Alegre.

Filha de Verônica da Silva Santos, conhecida como Tia Lili, e de Vilson Santos, Iara nasceu em setembro de 1955 e criou-se no bairro Petrópolis, em Porto Alegre, rodeada pelas duas irmãs biológicas e um irmão adotivo. Aos quatro anos de idade ficou órfã do pai.

Tia Lili assumiu as responsabilidades de maternidade solo, trabalhando sobremaneira como cozinheira para garantir uma educação de qualidade para suas filhas. Em sua tutela, começou a buscar possibilidades de bolsas de estudo em colégios particulares da cidade.

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Contemplada com uma bolsa de estudos no Colégio Santa Inês, aos oito anos de idade, Iara teve seu primeiro contato com a dança na escola, por meio de práticas corporais da Ginástica Artística, ministrada por Nilva Pinto(1934-2020), uma das importantes precursoras do ensino da dança em contextos escolares na capital gaúcha, durante as décadas de 1960 e 1970. O grupo caracterizava-se pela investigação de diversas culturas e sua potência estava na reinterpretação das Danças Folclóricas do Brasil.

Em 1974, Nilva levou seus alunos para participar de um evento artístico nas escolas, com algumas atividades das quais Iara fazia parte. As turmas se conheciam e o diferencial do grupo do Santa Inês era dançar com música ao vivo, produzida pelo coral da escola. Na banda do coral, havia um único jovem negro, chamado Marco Aurélio Faria, o Maestro.

Interessado em investigar estéticas musicais afrodiaspóricas, Marco convidou alguns amigos negros para compor uma música-protesto para participação em um festival estudantil. Com o intuito de elaborar a apresentação, eles convidaram Iara e outros quatro dançarinos para compor o grupo.

Ela, então, passou a integrar o grupo que, posteriormente, recebeu o nome de Afro-Sul, dando início à sua pesquisa artística em dança afro-gaúcha sobre as corporeidades negras insubmissas e promovendo, através de práticas artístico-pedagógicas, estratégias de emancipação social de pessoas negras.

Mestra Iara Deodoro foi pioneira em produzir um aporte estético-corporal de cunho político, antirracista e decolonial no campo das artes cênicas, especificamente na dança. A representação da pessoa negra em seu trabalho nunca esteve ligada à ideia de submissão, mas à de enfrentamento. A corporeidade que emerge em sua dança está conectada às influências rítmicas dos tambores presentes na musicalidade negra gaúcha, entendida como corporeidade negra afro-brasileira das zonas de fronteira com países de colonização hispânica.

Passadas cinco décadas, a obra de Iara Deodoro ganha uma Biblioteca Digital de movimentos da técnica de dança afro-gaúcha. Coordenado pela bailarina Mônica Dantas, professora do Curso de Dança e do Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da UFRGS, foram selecionados dez movimentos registrados em quatro formatos diferentes: descrição dos movimentos, imagens gravadas em vídeo, registro dos movimentos por meio de sistema cinemático de captura de movimento (MOCAP), e por meio da modelização 3D, gerando avatares dançantes.

A Biblioteca Digital de Movimentos Iara Deodoro celebra a obra da mestra, que, em 28 de setembro, fez sua passagem. Que esta seja um modo de honrar e celebrar sua vida e seu legado”, diz Mônica.

No dia 25 de novembro, às 20 horas, ocorre live de apresentação e, no dia 3 de dezembro, a partir das 19h30, o elenco da Biblioteca Digital se apresenta na sede do Afro-Sul, marcando as comemorações dos 50 anos do Grupo.

A biblioteca é uma parceria entre o Projeto Carne Digital (UFRGS) e o Grupo Afro-Sul de Música e Dança, que tem por objetivo o registro, a documentação, a reflexão crítica e a difusão de práticas de dança em ambientes diversos, buscando criar condições para que artistas sejam agentes da produção do conhecimento que se faz nas universidades. Nos últimos quatro anos, o Carne Digital desenvolveu o Arquivo Eva Schul, reconhecido com o Prêmio Açorianos de Dança na categoria Memória, e a participação na Residência Artística de Dança no Metaverso Goldsmiths Mocap Streame, da University of London/Reino Unido.

O Afro-Sul é composto por artistas negros, que vem lutando por visibilidade. Iara Deodoro teve sempre um olhar crítico para as desigualdades e fez de sua carreira uma luta pelo reconhecimento e resistência da cultura negra, marginalizada no Brasil. Nada mais justo do que documentar e favorecer a presença desses artistas em ambiente digital. O impacto artístico da proposta reside justamente na possibilidade de documentar e difundir os fundamentos de uma poética negra de modo inovador, buscando procedimentos de criação de artefatos de memória que sejam estética e eticamente coerentes com as práticas de dança desenvolvidas por ela e o Afro-Sul”, destaca a idealizadora do projeto.

SERVIÇO:
25 de novembro | Segunda-feira | 20h
Live de lançamento da Biblioteca Digital de Movimentos Iara Deodoro
Transmissão pelo Instagram @afrosul.odomodeoficial

03 de dezembro | Terça-feira | 19h30
Apresentação dos movimentos com o elenco da Biblioteca Digital
Onde: 
sede do Afro-Sul (Avenida Ipiranga, 3850 – Jardim Botânico)
Entrada gratuita

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Fonte: Redação

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